Mundo
17 março 2019 às 12h41

Campos Elísios transformados num estaleiro

No dia seguinte ao 18º sábado de protestos dos "coletes amarelos", a avenida de Paris onde moram as marcas de luxo é um imenso estaleiro de limpeza e obras. Michèle viu o seu quiosque destruído: "Estão a destruir empregos."

Céu Neves

Na manhã deste domingo, parisienses e turistas acordaram para uma Avenida dos Campos Elísios transformada num estaleiro, depois do 18º sábado de protestos do movimento dos "coletes amarelos" nas ruas de Paris, França.

Operários, máquinas, fumo e cheiro a queimado, barulho de martelos pneumáticos e gruas em movimento confundem-se na avenida onde moram as principais marcas de luxo, de roupa, calçado e malas, joias, perfumes, de equipamento desportivo, nomeadamente a loja do Paris Saint-Germain, e os hotéis e restaurantes mais caros.

Em frente ao Le Fouquet's, o restaurante onde Emmanuel Macron gostava de se reunir com a sua equipa na campanha que o levou ao Eliseu e cuja esplanada foi completamente destruída, Michèle Peterllin, 71 anos, é a imagem da desilusão. Há 30 anos que explora o quiosque de jornais defronte do restaurante, agora transformado numa amálgama de cinzas e destroços.

"As pessoas podem manifestar-se mas não assim. Não estão a manifestar-se pelos seus direitos e de outros. Estão a destruir empregos de muitas pessoas, trabalhadores como eles", lamenta à reportagem do DN. "Neste momento, sinto raiva, é raiva por quem fez isto. Estão destruir as coisas para simples prazer dos próprios."

Michèle soube pela televisão que o seu quiosque tinha ardido. Logo pela manhã percebeu que estes protestos seriam mais complicados que os das últimas semanas, em que o movimento dos "coletes amarelos" tinha perdido força. E não saiu de frente do televisor até que se confirmou o pior.

Foi o 18º sábado de manifestações, que se seguiu ao encerramento pelo Presidente da República do que o prórpio Emmanuel Macron chamou de Grande Debate Nacional.

Macron e a sua equipa ainda visitaram os principais locais destruídos na avenida, durante a noite, depois de ter sido obrigado a interromper um fim de semana numa estância de esqui. Os parisienses, mesmo aqueles que estão contra os "coletes amarelos", não gostaram que o chefe do Estado tivesse saído da capital no dia em que se previa um recrudescimento dos protestos.

Michèle tem sido apoiada pelas autoridades, recebendo ainda a solidariedade de pessoas anónimas e celebridades. Este domingo de manhã, o responsável da empresa que explora quiosques em Paris, a MegaKiosk, esteve com Michèle para perceber o que se pode fazer. Nada se aproveita dos destroços do quiosque, constata. Uma dezena de quiosques foram destruídos ao longo da avenida.

Muitas pessoas param a ouvir as entrevistas dos jornalistas e essas entrevistas geram debates espontâneos. Há quem justifique e fale dos direitos das pessoas que protestam, outros contrapõem que estão a destruir os trabalhos de pessoas que vivem pior ou com as mesmas dificuldades que os que se manifestam.

"Eu tenho seguro, mas não é isso que me resolve o problema. Primeiro vão ter que avaliar os estragos, depois vão dizer-me o que vão pagar e só depois virá o dinheiro. Trabalho com mais três empregados, sete dias por semana. É o nosso emprego que está em perigo", conta Michèle ao DN. "Vou continuar a vir todos os dias, são 30 anos de trabalho."

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