exclusivo
Mundo
17 março 2019 às 18h42

Sauditas são campeões mundiais a importar armas

Estados Unidos continuam a ser o maior exportador de armas, segundo dados do SIPRI. Arábia Saudita, um dos principais clientes da indústria bélica americana, é o maior importador mundial. Países do Médio Oriente surgem em destaque entre os grandes compradores de armamento.

Leonídio Paulo Ferreira

A Arábia Saudita ultrapassou a Índia como o maior importador de armas, revelou o SIPRI, instituição sediada na Suécia que se dedica aos estudos da paz e da guerra. Nada surpreendente para quem se recorda do cartão gigante com os valores dos vários contratos assinados com empresas americanas que Donald Trump mostrou há um ano para as câmaras quando Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro saudita, estava sentado ao seu lado na Casa Branca. E sim, claro, os Estados Unidos são os principais fornecedores de armamento ao reino, confirmando a aliança que vem desde o tempo de Franklin Roosevelt e Ibn Saud, avô de MBS, como é conhecido o filho de 33 anos do rei Salman e governante de facto do país.



Desde a dissuasão ao Irão até ao envolvimento na guerra civil no Iémen, há várias explicações para os muitos milhões gastos pelas autoridades de Riade em armas. Garantir uma boa relação político-diplomática com os Estados Unidos através das encomendas milionárias a firmas americanas é outra delas, como se viu na reação mínima de Trump à morte do opositor Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul em 2018. Então, vários líderes criticaram o reino e a Alemanha foi ao ponto de anunciar o fim da venda de armas.

País membro do G20, o grupo das maiores economias, e destinando mais recursos à defesa do que à educação, é natural que a Arábia Saudita surja como o terceiro país como maior orçamento militar, só atrás de Estados Unidos e da China. Mesmo uma certa quebra do preço do petróleo nos últimos anos não atenuou a febre consumista saudita, pois, se MBS é um relativo liberal a nível dos costumes, está disposto a defender com mão de ferro o seu poder, tanto de inimigos externos como internos.

As aquisições sauditas representaram 12% do total mundial de compras de armamento no período 2014-2018, que, diga-se, cresceu bastante em relação ao período de 2009-2013, com o Médio Oriente a dar um gigantesco contributo. Também Egito, Emirados Árabes Unidos e Iraque surgem no top 10 dos importadores. A nível regional o aumento de investimento bélico atinge os 87% de um quinquénio para outro, sublinha o instituto de Estocolmo.

A outra face das crescentes importações sauditas é o fortalecimento das exportações americanas. Apesar de Riade ter fornecedores tão diversos como Espanha, África do Sul e China, é dos Estados Unidos que vem o grosso do arsenal saudita. Assim, em 2014-2018 as empresas americanas foram responsáveis por 36% das vendas mundiais, um crescimento comparando com o quinquénio anterior. Com 21% das vendas globais, a Rússia continua a ser o segundo exportador, mas com quota menor do que em 2009-2013. Também a China, responsável por 5,2% das vendas, perdeu quota de mercado apesar de ter exportado mais em valores absolutos.

O mundo gasta cerca de 1,7 biliões de dólares (o trillion anglo-saxónico) em armas por ano. Grande parte deste valor não surge nas importações/importações porque basta pensar que os dois maiores orçamentos, o dos Estados Unidos e o da China, têm sobretudo fornecedores nacionais.

Trump, que não vendeu ainda tudo o que queria a MBS, começa a ver justificada a escolha da Arábia para primeiro destino após a eleição em 2016. Finalmente, pensará o presidente, um aliado que cumpre o caderno de encargos e até se abastece na América para felicidade da Lockeed-Martin, da General Dynamics ou da Raytheon.