Desporto
11 junho 2021 às 15h23

Jorge Fonseca. Campeão mundial repetiu a dança ao som do ippon

Judoca do Sporting brilhou nos mundiais de Judo, em Budapeste, na categoria de -100 Kg e venceu todos os combates por ippon, a pontuação máxima no judo. Foi descoberto por Pedro Soares numa escola da Damaia aos 11 anos.

Absolutamente brilhante! Jorge Fonseca sagrou-se esta sexta-feira bicampeão mundial de judo, na categoria de -100 kg. A superioridade e confiança do judoca português (7.º do ranking mundial) deliciaram quem assistiu à final, onde bateu Aleksandar Kukolj, o sérvio menor cotado mundialmente (27.º), por ippon.

O judoca do Sporting defendia o título mundial ganho em 2019, no Japão. E tal como nessa altura, acabou o combate a dançar.

O português esteve imparável nos combates. Até chegar à final, venceu o uzbeque Muzaffarbek Turoboyev (45.º do ranking mundial), o canadiano Kyle Reyes (26.º), o georgiano Ília Sulamanidze (21.º) e o holandês Michael Korrel (3.º), todos por ippon, a pontuação máxima no judo. E foi também por ippon que bateu Kukolj (54.º).

"Na primeira vez duvidaram, disseram que foi sorte. Hoje [ontem] foi trabalho, determinação e foco. Calei muita gente. Dei espetáculo a fazer judo, diverti-me imenso e foi um dia perfeito", disse à Sport TV, prometendo empenho nos Jogos Olímpicos de Tóquio: "É um progresso e quero trabalhar para isso. Chegar aos Jogos e fazer o mesmo que fiz hoje. Vou tentar fazer história e dar tudo de mim, como sempre. Vou estar nos Jogos no nível mais alto possível e fazer o melhor resultado possível. Quero dedicar esta medalha a todos os portugueses. Está aqui. Bicampeão do mundo."

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O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, elogiou a "excelência" dos atletas portugueses após o novo título mundial do judoca Jorge Fonseca."A excelência do desporto português volta a estar em destaque. Os meus parabéns ao Jorge Fonseca, que se consagrou bicampeão mundial de judo e ao Anri Egutidze que conquistou a medalha de bronze, no mundial de Budapeste", escreveu o governante na rede social Twitter..

Sétimo do ranking mundial, o judoca do Sporting é o único campeão mundial do judo português e isso diz muto do feito que acaba de conseguir. Agora é o único bicampeão do mundo do judo português aos 28 anos e o único com duas medalhas de ouro em Mundiais. Telma Monteiro, que nestes Mundiais ficou em sétimo lugar, continua a ser a recordista de medalhas conquistadas, com quatro de prata e uma de bronze.

Depois dela nunca ninguém tinha subido por duas vezes ao pódio da competição, até ontem. E desta vez com duas medalhas de ouro consecutivas. Algo tão inédito quanto emocionante. Jorge Fonseca não conteve as lágrimas no pódio ao ouvir o Hino Nacional.

É a 13.ª medalha de Portugal na história dos Mundiais, duas de ouro (ambas de Fonseca), cinco de prata e seis de bronze. Com este resultado, Jorge Fonseca, de 28 anos, vai ser um dos cabeças-de-série nos Jogos Olímpicos. A lista oficial deverá sair só na próxima segunda-feira, concluída a última prova da qualificação olímpica.

Esta foi a segunda medalha portuguesa nos Mundiais de Budapeste, idade onde a seleção nacional de futebol se estreia no Euro 2020, depois do bronze de Anri Egutidze. Hoje é a vez de Rochele Nunes (+78 kg) fechar a participação lusa.

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Nascido em São Tomé e Príncipe a 30 de outubro de 1992, Jorge Fonseca chegou a Portugal com 11 anos. Ainda jogou à bola com os outros miúdos na rua, "mas não tinha jeito nenhum" e começou a praticar judo numa escola na Damaia seduzido pelos combates de Pedro Soares, que ainda hoje é seu treinador no Sporting.

O percurso até ao sucesso não foi fácil, mas o talento estava lá e em 2013 deu mostras de poder fazer carreira no judo. Nesse ano conquistou o título português de sub-23 e conseguiu algo de inédito para o judo nacional ao tornar-se o primeiro atleta masculino português a alcançar o título de campeão da Europa de sub-23.

A glória ameaçava chegar quando a vida lhe trocou as voltas. Aos 17 anos foi pai e as prioridades mudaram. De origens humildes, Fonseca sofreu algumas quedas, mas levantou-se sempre. Em 2015 superou um tumor num perna com a ajuda do filho recém-nascido, voltou ao tatami e não desistiu enquanto não foi campeão mundial (2019). Em 2020 esteve infetado com covid-19 e não pôde treinar como gostaria, o que comprometeu a preparação para os Europeus de Lisboa, em abril, onde desiludiu quem dele esperava medalhas terminando em sétimo.

Sabia que algo maior estava para acontecer, mas não quer ficar por aqui e já está de olho nos Jogos Olímpicos, que se realizam em Tóquio. O Japão traz-lhe boas e más recordações. Foi lá que em 2019 foi campeão do mundo e também foi lá que já foi detido por duas vezes - uma delas por atravessar a rua fora da passadeira, a outra por correr na rua sem T-shirt ."Tenho de acreditar que vou conseguir", atirou quando confrontado com a possibilidade de conquistar o ouro Olímpico daqui a pouco mais de um mês.

isaura.almeida@dn.pt