Poder
13 maio 2019 às 18h42

Fogos, redundâncias, contas e a disquete de Costa. Um debate quinzenal em tempo de campanha

Costa admitiu a nacionalização do ​​​​SIRESP, que garantiu continuar a funcionar. E voltou a discutir com a esquerda por causa dos professores. "A política não é um jogo quando se está no Governo ou na oposição", respondeu ao BE.​​​

Miguel Marujo

Num dia quente a chamar pelo verão, em que um fogo deflagrou em Sintra, o primeiro-ministro já tinha antecipado os incêndios seriam o tema da sua intervenção num debate quinzenal quase atípico: realizado numa segunda-feira, o primeiro desde a crise política dos professores, durante a campanha eleitoral para as eleições europeias de 26 de maio, sem qualquer tema europeu na agenda e com ausências nas bancadas de deputados que andam na estrada. E até Marcelo Rebelo de Sousa meteu a sua colherada, interrompendo os diretos de São Bento (no momento em que Assunção Cristas interpelava Costa), com a sua primeira aparição pública com declarações. Estamos em 13 de maio.

Para já, António Costa admitiu esta segunda-feira a nacionalização do SIRESP, ao apontar ao secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que o Governo tudo fará para evitar que a entidade gestora desligue o sistema de redundância, passando pela "aquisição da posição acionista por parte do Estado". Uma notícia que deve ser conhecida (resolvida) nas "próximas horas", como afirmou o primeiro-ministro, sem dizer muito mais.

Costa garantiu à presidente do CDS, Assunção Cristas, que "o sistema de redundância não será desligado", esperando que "a contento de ambas as partes". E o primeiro-ministro assegurou "em caso algum o país ficará desprotegido", notando mais tarde, já em resposta a Heloísa Apolónia, dos "Verdes", notou que "o SIRESP funcionará, como já funcionou em 2018". Para o primeiro-ministro, "em caso algum o país ficará desprotegido", notando mais tarde, já em resposta a Heloísa Apolónia, dos "Verdes", notou que "o SIRESP funcionará como já funcionou em 2018".

Antes, na resposta ao líder da bancada do PSD, Costa reconheceu que "a sociedade gestora do SIRESP realizou investimentos necessários para assegurar redundâncias" pelo que há uma "questão financeira com o Estado", mas o Governo não pode "pagar algo que não tem visto" do Tribunal de Contas. E foi neste ponto que o primeiro-ministro apontou que, "nas próximas horas", haverá "uma conclusão das negociações", esperando "que se concluam a contento de ambas as partes".

António Costa já tinha revelado, num primeiro momento do debate, que o processo de indemnização às vítimas mortais nos incêndios de 2017 "está concluído", traduzindo-se num valor de mais de 30 milhões de euros por 115 vítimas.

PSD: "Chama a isto boa gestão das contas públicas?"

O PSD trouxe a debate vários exemplos do que será má gestão das contas públicas, por parte do executivo socialista. E a cada exemplo, fosse da queda do investimento público ou dos atrasos de pagamento na Saúde, Negrão rematou por seis vezes com a mesma pergunta: "Chama a isto boa gestão das contas públicas?"

Costa foi ignorando a questão, mas no final do tempo de intervenção do PSD atirou com a crise dos professores ao líder parlamentar social-democrata: "Não recebemos lições de boa gestão das contas públicas de quem começa a legislatura a ameaçar cortar 600 milhões de euros aos pensionistas e acaba a legislatura em aumentar a despesa permanente em 800 milhões de euros", com a proposta de contagem integral do tempo dos professores.

Não seria a primeira vez que a questão dos professores viria a debate, mas sempre pela esquerda - BE, PCP e PEV, à vez, criticaram em tons duros o que chamaram de "crise artificial" criada por António Costa. A direita fez de conta que esta história não era com ela.

Numa crispação maior entre socialistas e bloquistas, Catarina Martins notaria que "a governação não pode ser um jogo e este jogo faz mal ao país", notando que há "um elefante na sala". Para a coordenadora do BE, "duplicar números para fazer a crise artificial da semana passada" são "cambalhotas" de quem "chumba no continente o que faz nos Açores".

Quando Catarina Martins não tinha tempo para replicar, Costa atirou: "A política não é um jogo quando se está no Governo ou na oposição, nem na posição em que está a senhora deputada", referindo "que o governo não deu cambalhota nenhuma". E o primeiro-ministro ainda respondeu em tom ríspido a Mariana Mortágua, por causa das contas em valores líquidos e brutos.

Também o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, notou que "o PS parece estar satisfeito porque meteu no bolso PSD e CDS", para lembrar que "nenhum Governo que se diga de esquerda pode ficar contente com o bloqueamento de rendimentos". Há feridas ainda a curar na geringonça.

Onde não há cura possível, é no entendimento entre António Costa e Assunção Cristas. É coisa antiga, esta tensão entre o primeiro-ministro e a presidente do CDS. A centrista questionou insistentemente a "carga fiscal máxima" deste Governo, por causa dos indicadores do INE hoje revelados, com Costa a insistir que não é por ação direta do executivo socialista e não por causa de aumento de impostos. E desabafou: "A senhora deputada é um caso difícil."

A síntese deste debate poderia ter vindo de Jerónimo de Sousa ao dirigir-se a António Costa, não fosse o recuo no tempo para o início dos anos 1990, que provocou risos nas várias bancadas: "Senhor primeiro-ministro, corre o risco de qualquer dia ser acusado de ter uma cassete, ou neste tempo mais moderno, uma disquete".