16 maio 2016 às 01h41

Festejos de um campeão que não perdeu a compostura

Rui Vitória recusou protagonismo no tri e não quis desforrar-se de Jorge Jesus na hora do seu primeiro título de campeão

Gonçalo Lopes e Rui Frias

Quando, a dois minutos do fim do jogo com o Nacional, com o triunfo assegurado e o tão ambicionado tri já bem seguro entre as mãos, Rui Vitória começou a saltar ao ritmo dos cânticos do público da Luz, o treinador do Benfica soltou finalmente as emoções de uma época exigente como poucas na história do futebol português.

Mas os festejos do título - o seu primeiro de campeão nacional - não o fizeram perder a compostura. Nem aproveitar o momento para qualquer desforra pessoal. Na altura de celebrar, Vitória mostrou-se um campeão igual a si próprio. Afinal, disse aos microfones da BTV, "ser campeão é [também] consequência da minha postura".

Essa era uma expectativa quase tão grande quanto a do próprio desfecho do campeonato: perceber como iria o Benfica, e em particular o seu treinador, festejar um título que a determinada altura parecia não passar de uma miragem, desfocada pelo bullying do rival dentro e fora do campo. Iria finalmente Rui Vitória despejar toda a animosidade acumulada contra o antecessor que tantas vezes o menorizou?

A resposta mais direta do técnico surgiu já na sala de imprensa, depois dos festejos no relvado e de levantada a taça do 35.º título de campeão do Benfica. Aí, Rui Vitória não pôde evitar o tema. Mas não perdeu a compostura que mostrou quase sempre ao longo da temporada, evitando responder na mesma moeda ao seu antecessor na Luz e agora rival em Alvalade.

"A minha forma de estar na vida é completamente diferente [da de Jorge Jesus]", respondeu Vitória, para quem "o treinador do Sporting" só vem "para aí no 90.º lugar" das suas preocupações, depois dos "jogadores, família, presidente, equipa técnica", ou até de "antigos colegas de trabalho", dos "professores das filhas", do "motorista que um dia me levou a Fátima" e mesmo do "senhor que vendeu pipocas numa festa que tive".

De resto, o técnico, que se tornou o quarto treinador português a ser campeão pelo Benfica e bateu o recorde de pontos a 34 jornadas que pertencia ao FC Porto de Mourinho, controlou quase sempre a pose. Mesmo quando confrontado com as palavras de Jesus em Braga ["não ganhou o melhor" ou "eu crio e os outro copiam"]. "No final ganha a melhor equipa. Nós percebemos sempre todas as competições em que estávamos envolvidos, soubemos em todos os jogos o que tínhamos de fazer. E, no fim, a equipa que soma mais pontos é a melhor", respondeu, ouvido por um emocionado Rui Costa.

Antes disso, ainda no relvado, o técnico atribuiu o tri à "qualidade dos jogadores", foi surpreendido pela mãe de Renato Sanches a agradecer-lhe, em direto, o que fez pelo médio que vai jogar para o Bayern de Munique, e subiu ao palanque com as filhas a seu lado e o telemóvel na mão a filmar toda a festa do título. Para Rui Vitória, os protagonistas são os outros. Por isso, se os pais estivessem vivos, disse, "estariam mais orgulhosos pela postura do que pelo título".

Vitória foi também elogiado por Luís Filipe Vieira - "é um excelente treinador e homem com H grande" -, o presidente que ontem celebrou 15 anos no Benfica com o seu 15.º troféu e prometeu "mais investimento no Seixal", para formar "mais jogadores como Renato Sanches".

Renato Sanches animou a festa

Em redor do técnico, jogadores e adeptos davam um toque mais exuberante à festa. E, mesmo havendo uma preocupação generalizada em evitar o nome de Jorge Jesus e do Sporting, não faltaram indiretas. Como a do jovem Renato Sanches: "Esta é uma festa que ninguém esperava. Muitos tentaram deitar abaixo. Mas isto é o tri...nta e cinco, nada a fazer."

Celebrado o título na Luz, seguiu-se então para a tradicional festa no Marquês de Pombal, onde um mar vermelho, de milhares de adeptos, saltou e cantou ao ritmo das palavras de ordem do grande animador oficial desta festa do 35.º título do Benfica: Renato Sanches tomou conta do microfone e guiou as celebrações, ele que foi o grande trunfo com que Rui Vitória deu a volta ao texto desta temporada.