exclusivo
11 FEV 2019
11 fevereiro 2019 às 06h27

Independentistas vão a julgamento enquanto Puigdemont faz campanha pela Europa

Ex-presidente da Generalitat, que trocou Espanha pela Bélgica para evitar o processo judicial que agora começa em Madrid, tem viajado pela Europa em várias conferências pela defesa do independentismo catalão.

Susana Salvador

O Twitter e as conferências sobre o independentismo catalão por toda a Europa são o campo de batalha de Carles Puigdemont, o ex-presidente da Generalitat que se autoexilou na Bélgica para escapar ao processo judicial que agora começa em Espanha.

No banco dos réus sentam-se nove antigos membros do executivo de Puigdemont (seis deles estão detidos), incluindo o ex-vice-presidente Oriol Junqueras ou o antigo conselheiro de Assuntos Exteriores Raül Romeva, assim como a ex-presidente do Parlamento catalão Carme Forcadell e os dois líderes da sociedade civil, Jordi Sánchez (que era presidente da Assembleia Nacional Catalã) e Jordi Cuixart (presidente da Ómnium Cultural).

São acusados de rebelião, sedição e peculato na organização do referendo de 1 de outubro de 2017 e consequente declaração unilateral de independência, com a procuradoria espanhola a pedir penas de prisão entre os sete e os 25 anos de prisão.

"Em Espanha, considera-se 'alta traição' tentar dialogar com a Catalunha. Não vos deve surpreender que se considere 'rebelião' organizar um referendo e que nesta terça-feira começa o julgamento no qual se pedem 25 anos de prisão", escreveu Puigdemont no Twitter (em sete línguas diferentes).

Esta rede social é um dos seus principais campos de batalha desde que se exilou em Bruxelas, após escapar de carro pela fronteira com a França a 28 de outubro de 2017, véspera de ser chamado a declarar num tribunal de Madrid. Como ele, outros seis independentistas acabaram por fugir, tendo sido declarados à revelia pelo Supremo Tribunal, em julho de 2018, e estando a ser investigados num caso em separado.

"Deixar-me apodrecer no exílio para que ninguém me oiça também é um tipo de castigo", disse Puigdemont numa entrevista à AP.

O Twitter é usado para atacar os políticos espanhóis, exigir ações por parte da União Europeia ou partilhar as suas entrevistas com vários meios de todo o mundo ou conferências que dá por toda a Europa - no final de dezembro esteve em Londres, em janeiro passou por Dublin, para um debate no Trinity College sobre independência, nacionalismo e democracia, e na próxima quarta-feira, enquanto os ex-colaboradores estiverem no tribunal, estará na Universidade de Groningen, na Holanda.

O ex-presidente da Generalitat chegou a estar preso na Alemanha, por onde passou em março do ano passado depois de um desses compromissos internacionais. As autoridades alemãs detiveram Puigdemont ao abrigo do mandado de captura emitido pela justiça espanhola. A Alemanha acabaria por decidir que o ex-líder catalão podia ser extraditado para Espanha, mas apenas por peculato, o que levou o juiz a desistir do mandado.

Numa das entrevistas, ao The Irish Times, durante a visita a Dublin, Puigdemont admitiu poder concorrer às eleições europeias de maio. "Se houver uma lista única, vou apoiar, e, se necessário, vou participar", afirmou, mencionando uma lista única dos independentistas catalães (divididos por vários partidos). "Acho que é interessante para o processo catalão ter uma voz no Parlamento Europeu e pôr na agenda europeia o direito à autodeterminação", acrescentou.

Puigdemont lançou recentemente o movimento político Crida Nacional per la República (Apelo Nacional pela República), que tem como objetivo unir os independentistas, separados entre o Partido Democrata Europeu Catalão (PdeCat), do próprio Puigdemont, e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), de Junqueras. Além das viagens pela Europa, Puigdemont recebe várias vezes políticos catalães em Waterloo, onde está a viver.

A audiência dos independentistas catalães começa nesta terça-feira, com as questões prévias, que podem prolongar-se por três dias. O julgamento vai decorrer de terça a quinta-feira, com sessões de manhã e à tarde. Segundo a agência espanhola EFE, os interrogatórios aos arguidos só devem começar na terceira semana de fevereiro, sendo Junqueras o primeiro.

imagem DN\2019\02\ng-0386610f-a5c1-488b-96b2-c514f5ee760c.jpg

Na semana anterior ao julgamento, os detidos foram transferidos desde as prisões catalãs, onde se encontravam, para as de Madrid, para estarem mais próximo do tribunal.