19 março 2018 às 00h56

Há mais casos de sarampo. A vacinação deve ser obrigatória?

Já há suspeitas da doença no Hospital de Braga. A maior parte dos casos confirmados até agora são de profissionais de saúde

Joana Capucho

Os casos suspeitos de sarampo relacionados com o surto identificado no Hospital de Santo António (Porto) continuam a aumentar, tendo também surgido um "caso provável" no Hospital de Braga, o que reabriu o debate sobre se a vacinação deve ou não ser obrigatória para alguns grupos, nomeadamente entre profissionais de saúde, os mais afetados.

As opiniões dividem-se. Após o terceiro surto da doença no espaço de um ano - um dos quais resultou na morte de uma adolescente de 17 anos -, há quem defenda a imunização obrigatória de crianças e profissionais de saúde ou mesmo um termo de responsabilidade para quem optar para não se vacinar. Uma informação que deve constar do registo de cada utente.

Em comunicado, o Hospital de Braga confirmou, ontem, a notificação de "um caso provável de sarampo, ainda não confirmado laboratorialmente, de um colaborador", que levou à "vacinação de profissionais do Hospital".

Graça Feitas, diretora-geral de Saúde, negou que pudessem existir mais de 250 casos suspeitos da doença, como foi avançado pela SIC, e agendou para hoje uma conferência de imprensa com a presença do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, e do Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, Fernando Almeida. "Desconheço esse número. Não sei de onde veio esse número", disse ao DN, admitindo que o número de casos suspeitos seja superior ao avançado na última atualização: 36 casos confirmados entre 87 suspeitos.

Perante este cenário, o DN questionou algumas pessoas ligadas à área da saúde sobre se a vacinação deve ou não ser obrigatória. Para Ana Jorge, ex-ministra da Saúde, a "vacinação deve ser um ato voluntário e opcional, mas com um caráter quase obrigatório, no sentido de que toda a gente deve estar vacinada para se proteger a si e aos outros". Considera, no entanto, que "podem existir regras para as crianças que estão em ambiente escolar terem de estar vacinadas, uma vez que o risco é grande". Tal como para os profissionais de saúde. "Podia fazer sentido que, para trabalhar em determinados serviços precisassem de estar vacinados, para se protegerem a si e aos outros".

A pediatra considera que esta é uma questão que "deve ser discutida". "Não defendo regras de obrigatoriedade geral, mas para determinados meios", esclarece. A única maneira de acabar com a contaminação é, segundo Ana Jorge, "vacinar, além de isolar os doentes". "Vacinar todas as pessoas que não têm nenhuma vacina e aquelas que a tiveram há muitos anos e podem precisar de outra".

A vacinação obrigatória para crianças e profissionais de saúde é também defendida por José Aranda da Silva, presidente da INODES (Associação de Desenvolvimento e Investigação em Saúde Pública). "Apesar de haver bons resultados com a vacinação em Portugal, começam a surgir conceitos errados, que fragilizam o acesso à vacinação. Em casos de risco, e que põem em causa outros, a solução será a vacinação obrigatória", defende o ex presidente do Infarmed. No caso dos profissionais de saúde, justifica, "é uma medida fundamental para a proteção deles e da sociedade".

Já Maria de Belém, ex-ministra da Saúde, diz ao DN que ainda não se debruçou sobre o tema da vacinação obrigatória, mas destaca que esta é "uma discussão que deve manter-se". A presidente da Comissão de Revisão da Lei de Bases da Saúde defende que "quem não quiser vacinar-se, deve entregar um termo de responsabilidade", no qual diz que "conhece todas as consequências da sua decisão e assume que está preparado para elas".

Esta é, segundo Maria de Belém, uma informação que deve constar "do registo da pessoa", para que "quando alguém que não está vacinado é atendido num sistema de saúde, se conheça a situação e se possam tomar outras decisões".

O bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, admitiu recentemente que possa vir a ser obrigatório para os profissionais que trabalhem em unidades de saúde estarem vacinados. Uma medida que não é vista com bons olhos pela Ordem dos Enfermeiros. "Se quiserem fazer a discussão sobre a vacinação para todos estamos abertos a fazer essa discussão, agora como requisito para trabalhar que as pessoas sejam obrigadas, e apenas para um grupo profissional, não estamos disponíveis", afirmou, na semana passada, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavado.

Marcelo Rebelo de Sousa disse, no sábado, que "não é possível haver vacinação obrigatória, mas é muito importante que muitos portugueses percebam a importância da vacina".