21 março 2018 às 01h02

Sarampo em Portugal ainda não preocupa a OMS

Organização Mundial do Saúde alerta, no entanto, para a importância das vacinas, "a única forma de travar a transmissão" da doença

Joana Capucho com Lusa

São já 62 os casos de sarampo confirmados em Portugal, num total de 168 suspeitos, a maioria dos quais com ligação ao Hospital de Santo António, no Porto. Um número que continua a crescer, mas que ainda não levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a tomar medidas. Até ao momento, diz a Direção-Geral da Saúde, "a OMS não divulgou informação nem recomendações sobre o surto de sarampo na Região Norte". Ao DN, Siddhartha Datta, diretor técnico do programa de imunização e doenças prevenidas por vacinas da OMS, reforçou que o sarampo foi "eliminado" de Portugal, o que não quer dizer que não o vírus não possa ser importando, conduzindo "a casos esporádicos ou até mesmo surtos, onde existem falhas na cobertura da imunização".

Em 2017, lembra Siddhartha Datta, Portugal reportou 34 casos de sarampo, números que ficaram longe dos "grandes surtos (100 ou mais casos)" registados em 15 dos 53 países da região europeia considerada pela OMS. Na Roménia foram reportados 5562 casos, em Itália 5006 e na Ucrânia 4767. Países que enfrentaram uma série de desafios nos últimos anos, como "declínios na cobertura de imunização" e "coberturas baixas entre grupos marginalizados".

Em março do ano passado, a OMS avisava Portugal que o País enfrentava "elevado risco" em relação à doença devido à existência de "comunidades não vacinadas" em alguns países europeus. Um dos casos identificado no âmbito do surto deste ano estará ligado a França, onde, de acordo com o Centro Europeu de Controlo de Doenças, foram reportados 913 casos de sarampo até 12 de março. Por cá, dos 168 casos reportados, 62 foram confirmados laboratorialmente pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e 80 foram negativos, sendo que os restantes 26 casos aguardam resultado laboratorial. Seis doentes estão internados, "com situação clínica estável".

Depois de, no final de 2016, 33 dos 53 países terem alcançado o estatuto de "eliminação" no que diz respeito à doença, surgiram no ano passado 20 mil novos casos de sarampo na região considerada pela OMS, um número quatro vezes superior ao do ano anterior. Um retrocesso que, segundo o Siddhartha Datta, demonstra que os surtos "vão continuar a ocorrer até que todos os indivíduos suscetíveis (crianças ou adultos) estejam protegidos diretamente através da imunização ou indiretamente através da imunidade de grupo".

Questionado sobre a situação em Portugal, Siddhartha diz que "Portugal é considerado como tendo eliminado o sarampo e a rubéola", mas "embora as doenças não sejam endémicas", o vírus pode ser importado. E deixa um alerta: "A única forma de travar a transmissão do sarampo é através da vacinação". Cada pessoa "elegível" deve receber duas doses da vacina, para se proteger a si e aos que a rodeiam.

Lembrando que "o vírus do sarampo é altamente contagioso", Siddhartha sublinha que as taxas de cobertura da vacinação não chegam aos 95% em todos os países da Europa, pelo que não está garantida a imunidade de grupo em algumas zonas, o que pode levar ao aparecimento de surtos.

Surto estável

Fernando Araújo, secretário de Estado da Saúde, admitiu, ontem, que o País poderá estar em fase de transição sem novos ciclos infecciosos. "É provável, eventualmente, que possamos estar já numa fase de transição, mas temos de esperar pelos próximos dias para ter resultados concretos e podermos afirmar isso com alguma confiança", afirmou. Ainda será "precoce" afirmar que o surto já atingiu o "pico" de novos casos, mas o governante acredita que o número de novos casos está a ficar "estável".

Relativamente ao número de vacinas de sarampo existente em Portugal, Fernando Araújo garantiu que "é mais do que suficiente" para as necessidades da população em geral e dos profissionais de saúde. "Nesse aspeto estamos perfeitamente descansados e as pessoas podem estar confiantes que se for necessário, se for indicado, terão seguramente a vacina, que é gratuita, que é segura, e que defende os próprios, os seus mais próximos e a comunidade", realçou.

Já os deputados da Comissão do Ambiente e Saúde Pública do Parlamento Europeu lamentaram, ontem, que a quebra de confiança da opinião pública em matéria de vacinas esteja a ter consequências para a saúde. E mostraram-se preocupados com os dados epidemiológicos que mostram lacunas significativas na aceitação da vacinação e taxas de cobertura insuficientes para assegurar uma proteção pública adequada.