Desporto
03 outubro 2021 às 20h17

O título que faltava ao futsal já é uma realidade: Portugal campeão do mundo

Seleção venceu a Argentina na final do Campeonato do Mundo (2-1). Pany Varela fez os dois golos de Portugal no jogo do adeus de Ricardinho, que regressa com o troféu`mundial e o de melhor jogador da prova. Marcelo Rebelo de Sousa vai receber a comitiva na segunda-feira.

Heróis do mar e do futsal! Ricardinho, João Matos, Bebé, Bruno Coelho, André Coelho, Pany Varela, Zicky, Erick, Afonso Jesus, Tiago Brito, Tomás Paçó, Miguel Ângelo, Pauleta, Fábio Cecílio, André Sousa, Vítor Hugo fizeram de Portugal campeão do mundo de futsal, com um triunfo sobre a Argentina (2-1) na final do mundial da Lituânia. Era o título que faltava à seleção, que será recebida já na segunda-feira pelo presidente da República, Marcelo Rebela de Sousa. A equipa chega ao Aeroporto de Lisboa às 12.35.

Portugal entrou assim restrita lista de países campeões do mundo de futsal, juntamente com o Brasil (cinco títulos), Espanha (dois títulos) e Argentina (um título), que ganhou a última edição, em 2016, na Colômbia. A melhor participação de sempre da equipa das quinas tinha sido o terceiro lugar obtido em 2000, na Guatemala, agora superada por um espetacular e inédito título mundial.

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Pany Varela foi o herói maior entre os 16 magníficos de Jorge Braz. Com dois golos na final, terminou o mundial com oito - só superado pelos 9 do brasileiro Ferrão - e eleito o segundo melhor jogador da prova... depois de Ricardinho.

Nascido em Cabo verde, Anilton ("Pany" por culpa da avó) chegou a Portugal com 10 anos. Foi nas ruas de Vialonga que aperfeiçoou o português e adquiriu o gosto pelo futsal n"Os Patuscos, antes de ir para os escalões de formação do Forte da Casa. Agradece-lhes até hoje por o terem "desviado dos maus caminhos" e o terem levado a clubes como o Belenenses, Fundão, Benfica ou Sporting e à seleção.

No final do jogo e depois de marcar dois golos decisivos não conteve as lágrimas e ficou sem palavras: "Não me sinto o héroi. Somos uma nação valente, independente de quem joga. Estávamos no topo da Europa e agora estamos no topo do Mundo. Minha gente vou-me embora!"

A final também se fez com lágrimas (e glória) de Ricardinho ao ouvir o hino pela última vez - despediu-se da seleção, com 187 jogos e um título mundial, três anos depois de levantar o troféu europeu (2018). Para o seis vezes melhor jogador do mundo não terão sido só lágrimas de emoção. Há apenas seis meses estava a ser operado ao tendão da perna direita e ontem jogou a final do mundial do futsal, que ajudou a promover por esse mundo fora com a sua magia. Aos 36 anos foi eleito o melhor jogador do mundial e desequilibrou a seu favor a discussão sobre quem é o melhor de sempre.

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Nas bancadas, os cerca de 20 alunos da Erasmus multiplicaram até à meia centena, com emigrantes vindos de toda a parte para cantar: "Queremos levar a taça para o nosso Portugal." A seleção nacional ouviu e trator de cumpriu o desejo do povo. "Este mundial é para eles, pelo trabalho e por todos os portugueses. Disse que íamos dar a vida por Portugal, ao nosso país e fomos fantásticos. Sou o homem mais feliz do mundo com uma equipa assim. Ser campeão do mundo supostamente não é fácil e é inteiramente merecido", elogiou o selecionador que este domingo escreveu a mais bela página do futsal português .

Jorgr Braz juntou assim o título mundial ao europeu: "Eu tinha isto para dizer: eu meti-me num trabalho dos diabos hoje. Eu arranjei uma confusão bonita. Agora, em vez de revalidar um título tenho de revalidar dois (risos). Estou tramado. Tenho de revalidar dois títulos antes do fim do contrato, senão sou despedido (risos)Em vez de revalidar um título tenho de revalidar dois."

Portugal entrou bem no jogo com Ricardinho e Zicky na cara do golo. Levou a melhor a organização defensiva que caracteriza esta Argentina. O equilíbrio foi evidente num jogo muito tático e estratega. Afinal jogava-se o tira teimas entre o campeão europeu (2018) e o campeão mundial (2016) e os nervos faziam parte do plano, assim como as picardias que davam algum sumo ao embate entre duas equipas de sangue quente. Os guarda-redes travaram um duelo muito particular no primeiro tempo. Se Bebé começou por evitar o golo de Leandro Cuzzolino, Sarmiento (com ajuda da barra) impediu o herói inesperado da meia final - Tiago Brito - de adiantar Portugal no marcador.

Jorge Braz promoveu a alta rotatividade para manter a pressão sobre a bola e bloquear as intenções ofensivas argentinas. A estratégia era eficaz e os argentinos iam perdendo a cabeça. A agressão pouco dissimulada a Ricardinho é um exemplo disso. Um murro no estômago que pouco dignifica a qualidade de Borruto, que acabou expulso e deixou a Argentina a jogar com quatro durante dois minutos, depois do selecionador português ter pedido o suporte de vídeo para ver o lance.

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Foi em superioridade numérica que Portugal chegou ao golo e já depois de um falhanço monumental de Ricardinho - com a baliza aberta atirou ao poste. Pany Varela, o joker de Jorge Braz deste mundial voltou a aparecer. Marcar primeiro era importante... significava obrigar a Argentina a arriscar mais, cometer mais erros e abrir espaços para os criativos de Portugal. Só a inexperiência de Zicky e o desacerto de Bruno Coelho no remate ajudam a explicar porque falharam o 2-0 no fim da primeira parte.

Que jogada de Erick. Uma das jovens estrelas do futsal leonino, a quem um dia disseram que poderia não voltar a jogar devido a uma doença rara que desfaz o fémur, acertou na barra depois de uma jogada individual de grande nível. É verdade que podia ter sido mais eficaz e ter escolhido outra forma mais simples de rematar, mas o chapéu mostra todo a classe, talento e irreverência do jogador de 20 anos, que logo depois optou por um remate mais convencional e obrigou Sarmiento a evitar mais um golo português.

O jogo entrava numa fase decisiva e Bebé (e o poste) era cada vez mais protagonista... mas não tanto como Pany Varela que fez o segundo golo de Portugal. O 2-0 era uma boa almofada para a equipa de Jorge Braz... mas nem um minuto demorou a sofrer um golo de Claudino, numa bela jogada individual. Estava de novo tudo em aberto e era preciso olho aberto para o jogo matreiro (para não dizer sujo) argentino... sempre a tentar sacar um amarelo ou vermelho do lado português. Alguns miúdos como Zicky e Erick caíram na esparrela...

Mas tal como Ricardinho tinha dito antes do jogo a história estava feita, faltava a glória... que chegou ao fim de cinco minutos de grande intensidade e pressão argentina. Nos últimos segundos o poste da baliza de Bebé evitou o empate e Portugal fez história e destronou a Argentina!

O Brasil ficou um terceiro lugar, depois de vencer o Cazaquistão, por 4-2.

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isaura.almeida@dn.pt