03 dezembro 2016 às 00h22

O adeus precoce e surpreendente do campeão Nico Rosberg

Alemão anunciou fim da carreira, cinco dias após festejar o título. Piloto deixa o circo aos 31 anos e abre vaga na Mercedes

Isaura Almeida

Com a mesma velocidade com que corria na pista, Nico Rosberg disse adeus à Fórmula 1, cinco dias após se sagrar campeão mundial (e com contrato com a Mercedes até 2018). O piloto alemão largou a bomba e apanhou o circo de surpresa, ontem, em plena gala da Federação Internacional de Automobilismo, pouco antes de receber o troféu de campeão da F 1. "Para mim é um dia muito especial, receber o troféu. Esta noite será incrível, mas por outra razão. Quero aproveitar a oportunidade para anunciar o fim da minha carreira na F1", disse o piloto de 31 anos, que assim se despede com 23 vitórias, 30 poles, 57 pódios e 206 largadas.

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Nico é assim o segundo da história da F1 a abandonar, após festejar o primeiro título. O outro foi o britânico Mike Hawthorn, campeão de 1958. E o último piloto a deixar as pistas após ser campeão foi o francês Alain Prost, em 1993, depois de conquistar o quarto título mundial.

O mundo perguntou porquê? E Rosberg justificou no Facebook, com a vontade de dedicar mais tempo à família: "Desde que comecei a correr, há 25 anos, o meu sonho foi sempre tornar-me campeão de Fórmula 1. Persegui este objetivo trabalhando duro, com sacrifícios, com dor. Agora atingi esse objetivo e sinto-me satisfeito."

O alemão sagrou-se campeão no domingo, em Abu Dhabi, e assim cumpriu o "sonho de criança". Depois disso, não está mais disposto "a fazer sacrifícios", nem "interessado em ser quarto ou qualquer outra coisa". Portanto, decidiu "seguir o coração e o coração disse para parar". E foi o que fez, cinco dias depois de se ter consagrado como o 33.º campeão mundial da categoria rainha do desporto automóvel.

Parou depois de igualar o feito do pai, o finlandês Keke Rosberg, campeão mundial de F1 em 1982. "Estou muito orgulhoso por ter conseguido reeditar o feito do meu pai", confessou Rosberg, que se tornou o segundo filho de um campeão de F1 a seguir os passos do pai, depois do britânico Damon Hill, filho do bicampeão Graham Hill (1962 e 1968), em 1996.

Karts e amizade com Lewis

Nasceu em 1985 na cidade alemã de Wiesbaden. Filho do campeão Keke Rosberg era presença assídua no paddock e o gosto pelos carros era inato. Cresceu no Mónaco, onde ia para a escola pelas mesmas ruas que uma vez por ano viravam pista de F1. Começou nos karts (com Hamilton, a quem avisou que ia abandonar, na segunda-feira) e passou para a F-BMW, a marca que fornecia os motores da Willims e que lhe abriu as portas do circo.

Até então o plano de Nico era entrar nas boxes, mas como engenheiro aerodinâmico. Mas o destino trocou-lhe as voltas e abandonou a escola para se dedicar aos treinos. Estreou-se na F1 em 2006 pela Williams, um ano depois de ser campeão de GT2. E em 2010 mudou-se para a Mercedes, para dar luta a Michael Schumacher (tinha regressado à F1, após o abandono de 2006). A partir de 2013, teve a forte concorrência do amigo Lewis Hamilton, o campeão de 2014 e 2015. E depois de dois anos como vice, alcançou o título em 2016. "Agora vou saborear as próximas semanas, desfrutar de todas as experiências futuras. Só depois irei pensar o que a vida me reserva", desabafou o campeão reformado.

Mercedes sem plano B

O bombástico anúncio de Rosberg reaquece o mercado da F1 para 2017. Havia apenas três vagas disponíveis, duas na Manor e uma na Sauber. Agora, segundo a imprensa especializada, Pascal Wehrlein (Manor) e Valtteri Bottas (Williams) são os mais cotados para a cobiçadíssima vaga na Mercedes, a melhor equipa entre os construtores.

Muitos adeptos apontaram Verstappen ao lugar. E, durante a tarde, o piloto holandês da Red Bull e a escuderia alemã trocaram mensagens no Twitter, alimentando os rumores de que poderia ser ele o eleito. Toto Wolff, o patrão da Mercedes, admitiu que a situação era "inesperada", mas "algo entusiasmante", lembrando: "Vamos entrar numa nova era de regulamentos técnicos e existe um lugar livre na Mercedes."

Niki Lauda, que também abandonou a F1 de forma inesperada, em 1978, e voltou quatro anos mais tarde, ficou surpreendido com a decisão de Rosberg."Não contávamos com isto", disse o ex-piloto, revelando que ainda tentou demover o alemão, mas "nada podia fazer" para o fazer mudar de ideias. Será o adeus de Rosberg definitivo?